domingo, 21 de novembro de 2010

Primeiro dia sem você

Acordo feliz, nada como acordar triste para não carregar a espera da decepção. Tomo um banho demorado escutando MPB no último volume. Claro que não é para te provocar, você não está lá para ouvir as músicas que você tanto odeia apenas porque você não gosta de tudo que eu gosto, mas é para impor ao mundo que eu voltei, estou única e exclusiva novamente. Eu e o meu mundo. Eu e minha solidão sem preconceitos e sem lições de moral, minha melhor amiga, a solidão, nunca vai me achar estranha justamente porque é filha predileta da minha estranheza.
Coloco um short curto, uma blusinha eum chinelo que não me deixa nada feminina, pinto os olhos, adoro não precisar parecer uma moça com dono. Chego as 8:30h na manicure e saio apenas 11:30h. Pela primeira vez sem ter que te ouvir reclamar e questionar porque eu fico tanto tempo lá. Depois fui na cabeleireira e lá perdi mais duas horas. Na sua ausência, me perco na liberdade que só a solidão pode oferecer. Dona de meus próprios domínios, sem você, deixo nascer a tirana que habita em mim. Dona exclusiva dos meus domínios.
Se eu quiser, hoje, alugo uma daquelas comédias românticas e assisto embaixo da minha coberta com um pijama bem feio e meu cabelo em seu pior estado. Quem sabe eu não tiro umas melecas do nariz, beijo meu cachorro na boca e solto pum. Eu e meus filmes prediletos, eu e meu filho peludo, eu e as extensões do meu corpo. Faço aula de yoga ou musculação? Encontro o meu novo amigo interessante para uma cerveja ou bato papo com a minha nova amiga sobre essa nossa mania de não saber ser feliz, mas impor ao mundo o tempo todo a cartilha da felicidade?
O mundo é enorme sem você. O mundo é enorme sem toda a culpa que eu carrego por não ser a menininha leve e sem preconceitos que curte ver o desenho da Lua no mar e não se abala com tanto amor e nem com o medo e o cansaço que viver causa. Eu sei que sou pesada, triste, dramática, neurótica, louca, insatisfeita, mimada, carente. Mas você se esqueceu da minha maior qualidade: eu sou só.
O mundo é cheio de opções sem você, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais. Eu continuo só quando quero escrever uma vida com você, mas você detesta meus caminhos anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausência. Eu detesto seu riso alto e forçado pisoteando o meu mundo de sombras, eu detesto você saindo pela porta e as paredes se fechando, se fechando, e eu sem poder berrar para, pelo amor de Deus, você me resgatar, e me colocar no colo, e me dizer que você me entende e sofre também.
Eu sou só porque enquanto eu pensava tudo isso, você impunha aos quatro ventos que acabou, querendo parecer muito forte e macho para seu grupinho muito forte e macho. Eu hoje fui ao banheiro duzentas vezes para ficar longe do meu celular e do meu e-mail, ficar longe de todas as possibilidades da sua existência. Me olhei no espelho bem profundamente para enxergar minhas raízes e ganhar força, chorei algumas vezes, fiquei sentada no chão do banheiro, para ver se meu corpo esquentava um pouco ou porque estava mesmo me sentindo um lixo.
Estar sozinha não muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar até melhor com ele. O que me entristece, é ter visto em você o fim de uma história contada sempre com a mesma intensidade individual. Eu tinha visto na sua solidão uma excelente amiga para a minha solidão. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.

Um comentário:

Andreia Sieczko disse...

Adorei! Sinceramente... um dia vou precisar escrever palavras iguais a essas. Não pare NUNCA de escrever. Amei o seu blog!

Andreia Sieczko